Coleção destaca produção de vinhos do Chile e da Argentina

Coleção destaca produção de vinhos do Chile e da Argentina

Os maiores produtores do Cone Sul são tema do sétimo volume

DE SÃO PAULO

Os maiores produtores de vinho do Cone Sul serão assunto do próximo volume da Coleção Folha O Mundo do Vinho, nas bancas no outro domingo, dia 25.
«Chile e Argentina», sétimo livro da série, aborda dois países cujos rótulos satisfazem o paladar internacional.
No caso do Brasil, ambos têm importância especial. «O vinho argentino disputa com o chileno a liderança do mercado e tem se constituído em imbatível relação preço versus qualidade», diz o autor e jornalista Eduardo Viotti.
O pesadelo da filoxera, praga que dizimou os vinhedos europeus no final do século 19, nunca chegou ao Chile, protegido por condições geográficas.
Depois de um período de intervenção estatal -entre 1960 e 1970- e da crise econômica na década seguinte, o vinho chileno renasceu.
Com microclimas diversos e tecnologia de ponta, o país ainda conta com uma uva-símbolo, a tinta carmenère.
Mas são os tintos de cabernet sauvignon o sucesso do país, que aposta também na uva rubra syrah e em novas regiões produtoras, como a fria zona de Leyda.
Já a casta francesa malbec encontrou sua melhor expressão na Argentina, que ocupa a quinta posição entre os produtores mundiais.
Se até os anos 1980 o país se dedicou à produção de rótulos mais populares, a década de 1990 assistiu a uma melhora na qualidade, visando o mercado externo.
Com modernas técnicas de viticultura, apoiadas num eficiente sistema de captação de água dos Andes, o país tem Mendoza como a principal região produtora, com áreas elevadas, que garantem complexidade à bebida.
No final da apresentação das principais regiões vinícolas chilenas e argentinas, a obra dá dicas de como programar uma viagem ideal para cada um dos países.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 18 de julio de 2010 cuaderno Ilustrada)

Chávez exibe esqueleto de Simón Bolívar na TV

Chávez exibe esqueleto de Simón Bolívar na TV

Corpo de herói nacional foi exumado para investigação de causa da morte

Presidente venezuelano reuniu 50 especialistas para apurar a teoria de que herói que lhe serve de inspiração foi morto

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Às 23h de anteontem, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, pediu: tirem as crianças da sala que a cena que vamos exibir será forte.
Em cadeia nacional de TV, Chávez exibiu as imagens da ossada do prócer nacional, Simón Bolívar -ou ao menos os restos mortais guardados no Panteão Nacional.
A cena era resultado do processo de exumação da ossada de Bolívar ordenada pelo presidente e levada a cabo na madrugada anterior.
Uma equipe de 50 pessoas, entre militares, ministros e cientistas, colheu fios de cabelo e material dental dos restos mortais, contou Chávez.
O venezuelano já havia anunciado a exumação, mas a operação de 19 horas que começou na manhã de quinta-feira não foi divulgada até sua conclusão.
Historiadores criticaram a ação do governo pela falta de acompanhamento independente do processo. Também apontam a intenção de Chávez, que se diz inspirado nas ideias de Bolívar, de se apropriar da figura do herói nacional e forçar uma interpretação única da história. Os analistas políticos também veem a exumação como manobra diversionista de Chávez, no momento em que o país atravessa recessão.
Chávez montou um grande espetáculo emotivo para a apresentação. Na sua conta no Twitter e na TV, disse haver sentido uma «chama» que o fez crer que os restos são de Bolívar. Leu o poema de Pablo Neruda «Un Canto para Bolívar».
Em 2007, Chávez pediu uma investigação sobre as causas da morte de Bolívar, sustentando que foi envenenamento. Mas a historiografia oficial afirma que Bolívar morreu de tuberculose.
Neste ano, o Ministério Público abriu uma unidade investigativa para o caso.

GLOBOVISIÓN
Chávez pediu anteontem que o presidente dos EUA, Barack Obama, extradite o empresário Nelson Mezerhane, que teve a prisão decretada pela Justiça venezuelana no começo do mês.
Mezerhane é dono do Banco Federal e acionista da TV Globovisión, a única emissora abertamente anti-Chávez ainda no ar.
O banco está sob intervenção federal desde 14 de junho passado. Naquele dia, Mezerhane declarou à Globovisión que estava em Miami fazendo exames médicos.

Folha.com

Veja trechos da exumação de Bolívar

QUEM É ANTONIO VILLARREAL

QUEM É
ANTONIO VILLARREAL

HISTÓRICO
Nascido em Morón, é casado e pai de uma filha. É economista e professor universitário

MILITÂNCIA
Lutou pela implementação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e organizou abaixo-assinado por referendo sobre direitos civis. Foi preso na Primavera Negra, em 2003

PRISÃO
Foi condenado a 15 anos de prisão por dirigir um centro de assistência a filhos de presos políticos. Cumpriu um ano e meio em Santiago de Cuba e outros cinco anos e meio em Santa Clara

(Fuente: Folha de S. Paulo de 18 de julio de 2010 Cuaderno Mundo)

En Cuba: Rotina de preso incluía novela brasileira

Rotina de preso incluía novela brasileira

Dissidentes cubanos comemoram libertação nesta semana, mas lamentam ter perdido fim de «A Favorita»

Libertados contam que, três vezes por semana, podiam assistir ao programa e se esquecer das condições na prisão

Paul White – 15.jul.2010/Associated Press

 

Ex-presos cubanos libertados e levados à Espanha aplaudem durante coletiva em Madri; eles relatam rotina na prisão

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Três vezes por semana, durante uma hora, os presos políticos de Cuba se esquecem das condições precárias dos presídios, da perseguição política e da distância das famílias. Nesses momentos, aglomeram-se em frente às televisões e, em silêncio, acompanham atentamente os capítulos das novelas brasileiras transmitidas na ilha.
Foi o que contaram à Folha 7 dos 11 dissidentes cubanos que foram enviados à Espanha nesta semana. Embora contentes de haver deixado a prisão, eles -e suas mulheres- lamentaram ter que deixar de acompanhar a trama de «A Favorita», novela de 2008 que está sendo reproduzida em Cuba.
«Me deu uma pena de não poder mais acompanhar. Estou curioso para saber o final», disse o dissidente Omar Ruiz sobre a trama, que estreou em Cuba em janeiro e é transmitida todas as terças, quintas e sábados, às 21h15, pela emissora Cubavisión.
Ruiz contou que, no presídio onde passou os últimos sete anos, em Espírito Santo, no centro de Cuba, os funcionários respeitavam a hora da novela e deixavam que os presos entrassem no refeitório, onde ficava a televisão e no qual só se permitia acesso nas refeições. «Éramos 132 presos, e nos aglomerávamos em frente a uma TV muito pequena», conta Ruiz.
Os dissidentes Pablo Pacheco e Julio Cesar Rodriguez disseram que o mesmo acontecia nos presídios em que foram mantidos.
«Nós temos poucas opções lá, são quatro canais, e só dois passam novelas, um de cubanas e outro de brasileiras. Mas preferimos as brasileiras. É só ver o sucesso dos paladares», diz Pacheco.
Paladares é como são chamados pequenos restaurantes que funcionam em residências da ilha e que herdaram o nome da empresa da personagem de Regina Duarte na novela «Vale Tudo», de 1988. No voo, eles chegaram a mencionar que perderiam o último capítulo.
As Damas de Branco (grupo de mulheres familiares dos dissidentes) que foram à Espanha acompanhando os maridos também se lamentaram por não poder mais acompanhar a trama.
«Estava arrumando as malas e, de repente, me dei conta de que iria perder a novela», disse Bárbara Ruiz, mulher de Omar Ruiz.
(LUISA BELCHIOR)

Folha.com

Espanha irá receber mais nove ex-detentos na terça

Sozinho e sem luz: MINHA HISTÓRIA ANTONIO VILLARREAL ACOSTA

MINHA HISTÓRIA ANTONIO VILLARREAL ACOSTA, 59

Sozinho e sem luz

(…)Um dia entraram na minha casa e me levaram (…) Não bebo nem rum, e agora faço tratamento psiquiátrico. Surtei (…) Cuba não vai mudar

RESUMO
Um dos sete presos políticos cubanos libertos e enviados à Espanha nesta semana, o economista e professor universitário Antonio Villarreal Acosta, 59, tem estado de saúde delicado. Preso em 2003, passou um ano e meio na solitária, período em que começou a sofrer transtornos psiquiátricos. Quando soube que seria solto, ficou tão emocionado que por quatro dias não se levantou da cama.

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MADRI

Antes de qualquer atividade, sempre começávamos com uma canção que diz: «América imortal, fonte de luz, farol de liberdade. Suas fronteiras são traços de amor, de glória sem igual. Sempre serás a salvação, América imortal!».
Essa era nossa apresentação na Frente Democrática Independente (FDI), a organização que eu presidia, com mais de 2.000 membros. Todos clandestinos. Isso antes de ir preso. Me prenderam sem dizer nada e me separaram da minha mulher [Silvia Aguada Alfonso, 45] e da minha filha [Diana Villarreal, 13]. Enlouqueci, pode ver o atestado médico [do Hospital Nacional de Presidiários de Cuba com um diagnóstico de «transtornos psicológicos», como depressão e ansiedade, «com alto risco suicida»].
Na FDI, nós atendíamos as crianças [filhos de presos políticos], dávamos assistência. Não aceitávamos membros que não fossem casados, porque acreditamos muito em Deus, não importa como o chamem. Quando alguém [preso] adoecia, buscávamos os medicamentos. Quando alguém fazia aniversário, sobretudo as Damas [de Branco, grupo de mulheres familiares dos dissidentes], comprávamos flores e as levávamos para passear no parque.
E a nossa aspiração era a aprovação [por Cuba] dos 30 artigos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovou em 30 de dezembro de 1948, em Genebra, Suíça.
Minha mãe dizia que se eu tivesse seguido a carreira eclesiástica, teria chegado a bispo ou arcebispo, e meu pai, que poderia chegar a coronel ou a general. Mas eu escolhi ser defensor dos direitos humanos. Como slogan, tenho o de que, quando minhas feridas estiverem cicatrizadas, alguém pagará por ter me ferido. Sim, porque pode-se esquecer com quem se riu, mas é muito difícil esquecer com quem se chorou.

PRIVAÇÃO
Um dia [23 de abril de 2003], vários carros com muitas pessoas pararam na porta de casa. Não me deram nenhuma explicação e me levaram. No Departamento de Segurança do Estado, queriam que eu reconhecesse que havia potências como os EUA por trás do meu trabalho, o que não era verdade. Por isso me condenaram a 15 anos de privação de liberdade.
Me puseram numa cela de castigo, uma cela solitária e sem nenhuma iluminação. Sem luz, e eu sozinho. Era um breu. Passei um ano e meio lá. Chamava-se assim: Regime Especial Boniatico, em Santiago de Cuba. As visitas eram a cada três meses, por duas horas. Depois, me levaram para um presídio em Santa Clara. Não sei o porquê, nunca me explicaram nada. Aí era o contrário: era muita gente, muitos bandidos. Passei cinco anos lá.

NEM RUM
Antes de entrar na prisão, não tomava nem aspirina. Não bebo nada de álcool. Nem rum. E, agora, faço tratamento psiquiátrico. Acho que fiquei assim pela agonia de estar longe da família e rodeado de pessoas que cometeram vários delitos. Eu surtei, e até hoje tomo muitos medicamentos.
Mas comecei a ficar mal em Santiago, acho que por estar sozinho o dia todo e sem luz. Tive muitas crises, e várias vezes fui transferido para o sanatório. Lá era um lugar mais digno, mais humano. Eu podia tomar banho todos os dias, usar pijama, ver TV, tinha cama individual. Ficava lá duas, três semanas e me mandavam de volta, o que era terrível. Voltava para a realidade.

ENAMORADO
O pessoal da igreja já tinha me comunicado da possibilidade de vir à Espanha. Fiquei tão emocionado que passei quatro dias sem sair da cama. No caminho para o aeroporto, nos deixaram separados, não via ninguém. Quando entrei no avião, vi minha mulher e me senti enamorado dela. E da minha filha.
Aqui em Madri está bem, mas é tudo muito diferente. E não temos nada certo, não sabemos de nada. Vou tentar continuar a luta daqui. Sei que é difícil, mas já estou em contato com organizações aqui da Espanha. E seguirei.
Não acho que vai haver nenhuma mudança em Cuba. Isso [a libertação] foi só por uma pressão internacional. Cuba não vai mudar.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 18 de julho de 2010. Cuaderno Mundo)

LOS COCINEROS: Argentinos desembarcam em São Paulo

Argentinos desembarcam em São Paulo

Mistura de gêneros musicais é o mote de duas bandas de Córdoba que se apresentam no Sesc e no Tapas Club

Enquanto conjunto resgata ritmos tradicionais, dupla Finlandia os moderniza com eletrônica
Divulgação

 

O grupo Los Cocineros, cuja sonoridade tem influências de cumbia, tango e bolero

JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles costumam subir ao palco de avental. O que sai do caldeirão desses cozinheiros argentinos, no entanto, não é comida, e sim uma música animada e dançante.
Vindos de Córdoba, o Los Cocineros apresentam amanhã, no Sesc Consolação, sua mistura de sons latinos.
«Nossas influências mais fortes são a cumbia, o cuarteto, que é propriamente cordobês, e ritmos como a ranchera, que também tem no México. O tango e o bolero também são importantes», conta o baixista Fonsy Denato, em português quase impecável, fruto de suas vindas ao Brasil.
É a quarta turnê da banda no país. Além de Denato, o grupo é formado por Andrés Clifford (guitarra e trompete), Nicolás Arrieta (bateria) e pela cantora Mara Santucho, a única integrante original da banda, fundada em 2001.
O trabalho mais recente da turma é «Diente Libre», lançado em 2009.
Menos ensolarado é o som do duo Finlandia, que também toca amanhã. O projeto é do ex-Cocinero e acordeonista Mauricio Candussi, que, no começo do ano, deixou Córdoba para se unir ao violoncelista brasileiro Raphael Evangelista.

GÊNEROS MODERNOS
A proposta é tentar modernizar gêneros musicais argentinos e brasileiros por meio da mistura de instrumentos acústicos com programações eletrônicas. «Para muita gente, Argentina é tango e Brasil, samba e bossa nova. Porém, existem muitos outros ritmos que incluímos no projeto: na parte brasileira, o baião e o frevo; já na argentina, a milonga e o chamamé», diz Evangelista.
«As canções são melancólicas e muitas das imagens que o nome Finlandia nos traz se relacionam com essa sensação. O título também remete ao tango finlandês, ou mesmo a filmes de [Aki] Kaurismäki», fala Candussi.
A parceria entre os dois deu origem ao álbum «Nandhara», disponível para download grátis no site da banda (www.finlandiamusica.com). Pelo horário e pela proximidade dos locais, dá para conferir os dois.


LOS COCINEROS

QUANDO amanhã, às 19h30
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre



FINLANDIA

QUANDO amanhã, às 22h ONDE Tapas Club (r. Augusta, 1.246, tel. 2574-1444)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 18 anos

Jorge Castañeda participa de debate dia 26

ENCONTRO

Jorge Castañeda participa de debate dia 26

O mexicano participa de um evento promovido pela Folha, em parceria com Fronteiras do Pensamento e Casa do Saber, dia 26, às 20h, no Teatro Folha (av. Higienópolis, 618). Assinantes podem se inscrever em

Beleza espanhola

LUIZ FELIPE PONDÉ

Beleza espanhola


Na Copa da África do Sul, venceu o bem contra o mal, e o bem era o futebol jogado pela Espanha

A Copa do Mundo acabou. Mas fiquei feliz com esta por uma razão especial: o bem venceu, o futebol da Espanha. E não o horroroso futebol de «resultados».
É claro que torço pelo Brasil. Não sofro dessa afetação de se «europeizar» na Copa, reeditando o velho preconceito de vira-lata do qual nós brasileiros sofremos.
Sempre que o Brasil é eliminado, me movo por parentesco cultural. Sim, tenho «sangue francês», o que sempre dá a França um lugar em meu coração de cangaceiro.
Aliás, concordo com a grande sacada de humor do colega Juca Kfouri: acho que naquele intervalo do primeiro para o segundo tempo do jogo com a Holanda, nosso treinador mandou o time parar de jogar bem e voltar ao futebol covarde e horroroso.
Depois da nossa amarelada diante da laranja, passei a torcer por meus «irmãos culturais». Torci pela Argentina do passional Maradona contra a Alemanha e sofri de verdade com os 4 X 0 que ela tomou. Torci pelo corajoso Uruguai contra Gana, contra a Holanda e contra a Alemanha.
Eliminados los hermanos, fiz da Espanha meu time. Por duas razões.
Sempre que viajo por aí, quando chego a Portugal ou a Espanha, começo a me sentir em casa. A língua, o barulho, a bagunça, a comida, as maravilhosas mulheres espanholas, enfim, a paixão dos ibéricos me lembra o Brasil, minha casa.
Gosto dos nossos ancestrais. Sim, sim, sei que ingleses são mais «chiques»» para quem se sente vira-lata.
Mas não para mim. Talvez esteja ficando velho, mas cada vez mais gosto do que é «meu». E o que é mais importante na vida, muitas vezes o é justamente porque não escolhemos.
Torci apaixonadamente pela Espanha contra a Alemanha e contra a Holanda.
Se uma das razões de ter feito da Espanha meu time entre europeus foi o parentesco cultural que sinto por ela, a outra razão foi mais filosófica. Como disse na abertura desta coluna, na Copa da África do Sul, venceu o bem contra o mal, e o bem era a arte da Espanha.
Seu futebol corajoso, ofensivo, generoso, bailado (ainda que com poucos gols) bateu a lógica científica das últimas Copas do Mundo.
Eu que acompanho Copas do Mundo desde 1966, vi (como todo mundo) a Copa virar um desfile da covardia matemática dos «idiotas da objetividade», como dizia o grande Nelson Rodrigues, e como citou recentemente o craque camisa nove da seleção tricampeã de 1970, e colunista desta Folha, Tostão, o filósofo discreto.
O mal no futebol, além das mazelas capitalistas que o afetam (mas que tem um lado bom que é reconhecer o esforço profissional dessa moçada que a ele se dedica), é esse joguinho sem vergonha de ficar o tempo todo na retranca, com medo de perder, mergulhado nesta ética da covardia estatística que toma conta do mundo dia a dia.
O mesmo tipo de covardia de que eu falava na semana passada nesta coluna (12/07) e que deixa a vida chata, deixou o futebol chato.
Enganam-se aqueles que acham esse assunto «menor»: a busca da saúde total é um mal sim político, pois é parente da pureza tirânica fascista e não mera modinha.
Como o futebol chato que busca apenas «resultados», a saúde total busca uma vida pautada pelos «resultados fisiológicos» e não pelos prazeres do mundo.
Esta Folha acertou em cheio ao dizer que «o futebol agradece» com a vitória espanhola nesta Copa. Isso deve ser repetido à exaustão na mídia, nas escolas, na publicidade, na novela das oito, porque a beleza na vida nunca é irmã gêmea do medo, mas sim irmã gêmea da coragem. E o medo deixa tudo feio.
E aqui, como todo mundo sabe, o esporte traz à luz seu profundo caráter de mimetizar, como que num pequeno laboratório, grande parte da vida.
O que vale na vida não é o resultado (ainda que seja necessário ter coragem para viver assim, porque a vida foi, é e sempre será uma guerra de morte), mas a beleza que a ela somos capazes de dar, como já dizia Platão no seu diálogo «O Banquete»: o destino de Eros (amor) é engendrar a beleza no mundo.
O time espanhol mostrou, de forma elegante, que a beleza ainda vale a pena e que os covardes e feios podem não ser o herdeiros da Terra.

Chore por nós, Argentina

Chore por nós, Argentina


O PRESIDENTE LULA DEVERIA TER A MESMA CORAGEM QUE TEVE A PRESIDENTE DA ARGENTINA E COMBATER OS PROMOTORES DO ATRASO E DA INTOLERÂNCIA ALEXANDRE VIDAL PORTO


ESPECIAL PARA A FOLHA

Na semana passada, o Senado da Argentina aprovou lei pela qual casamentos de pessoas do mesmo sexo tornaram-se legais no país.
Na América Latina, Uruguai, Equador, Colômbia e México já haviam adotado lei semelhante. Recentemente, Portugal tornou-se o 7º país europeu a regulamentar casamentos homossexuais e, no mês passado, a premiê da Islândia contraiu matrimônio civil com a parceira.
Parece claro que essa é uma tendência irreversível.
Mas as autoridades brasileiras insistem em continuar de olhos fechados para essa questão. O Congresso se recusa a discutir qualquer direito homossexual. É como se os legisladores decretassem a inexistência dos homossexuais no Brasil.
Acontece que eles existem e estão em toda parte. São homens e mulheres, filhos e irmãos. Têm amigos. Dedicam-se a todas as profissões. Pertencem a todas as classes sociais e grupos étnicos. Pagam impostos, votam e contribuem para o progresso.
Contudo, esses brasileiros vivem à míngua. No que diz respeito à proteção legal, dependem da caridade de algumas instituições. A regulamentação existente é pífia, e os homossexuais só contam com escassa jurisprudência.
Não há proteção contra a violência e a discriminação.
Casais do mesmo sexo têm de recorrer a uma brecha no Código Civil para formalizar as uniões nos termos de sociedade comercial, como se fossem coisas, e não pessoas.
O ódio contra os homossexuais no Brasil é um fato real.
A TV os humilha cotidianamente. Transforma pessoas em piadas e agride milhões de cidadãos comuns, que sofrem calados ao ver sua natureza exposta como risível.
Segundo o Grupo Gay da Bahia, o Brasil é campeão em assassinatos de homossexuais. Ainda assim, as autoridades negam-se a caracterizar a violência homofóbica como crime. É mais fácil fingir que o Brasil é uma democracia sexual, onde há respeito e proteção.
Exatamente como fizeram gerações passadas em relação aos negros.
O Judiciário faz pouco, o Executivo faz muito pouco e o Legislativo faz nada. Nesse mecanismo de autoengano, transfere-se para o Executivo a responsabilidade sobre os direitos das minorias. O Executivo, por sua vez, prefere não mobilizar a bancada porque o tema não é prioritário.
Por que desperdiçar capital político com um bando de gays, lésbicas e transexuais?
No entanto, o avanço desses direitos no Brasil é uma questão de justiça e tem de ser confrontada. Os homossexuais não são piores que ninguém. Não é justo que sejam tratados como inferiores.
O tratamento dado aos homossexuais no Brasil é covarde. Diante da inação do Congresso, o governo tem a responsabilidade. O presidente Lula deveria ter a mesma coragem que teve a presidente da Argentina e combater os promotores do atraso e da intolerância, estejam estes de farda, de terno ou de batina.
Pode-se afirmar que o Brasil está às portas de se tornar desenvolvido, que seremos a quinta economia do mundo e que nunca na história o país esteve tão bem em desenvolvimento social.
Essas afirmações, contudo, são falaciosas. O progresso não se conta apenas pelo tamanho e pujança da economia. Conta-se também pelo nível das liberdades individuais e pelo respeito à dignidade de seus cidadãos.
Para um homossexual, tanto faz viver no Brasil ou no país mais subdesenvolvido do mundo. O país continuará a envergonhar seus cidadãos enquanto as minorias continuarem no abandono.


Diplomata de carreira, ALEXANDRE VIDAL PORTO é mestre em direito por Harvard e autor de «Matias na Cidade» (Record)

Venezuela nega denúncia sobre presença das Farc

Venezuela nega denúncia sobre presença das Farc

Acusação feita pelo líder colombiano é rebatida por Hugo Chávez, que chama seu colega de «mafioso»

Episódio expõe fissuras entre Álvaro Uribe e o presidente eleito, Juan Manuel Santos, que tomará posse em agosto

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rejeitou ontem as denúncias de Bogotá de que chefes guerrilheiros estão abrigados em seu país.
Ele ainda acusou seu colega colombiano, Álvaro Uribe, de querer dinamitar a «reconciliação» com Caracas gestada por seu sucessor, Juan Manuel Santos, que assume em 7 de agosto.
O governo venezuelano convocou o embaixador do país na Colômbia para consultas e exigiu uma retratação de Uribe, que anteontem voltou a dizer que tem «evidências» da presença das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Venezuela.
Bogotá afirmou que pedirá uma reunião extraordinária do Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) para debater o tema.
Já o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Phillip Crowley, disse que as denúncias de Uribe preocupam e que é por isso que a Venezuela está na lista dos países que não colaboram na luta contra o terrorismo.
Chávez, na TV, voltou a chamar Uribe de «mafioso» e disse: «Uribe pretende seguir governando, e Santos diz: «Agora o chefe sou eu'».
O venezuelano disse estar à espera de que Santos honre suas promessas de iniciar um diálogo de «respeito».
Marcela Prieto, diretora do Instituto de Ciência Política, diz que Chávez leu corretamente a mensagem de Uribe. «O anúncio foi uma reação aos atos de independência de Santos. Os dados divulgados ontem não são novos e só podem ser lidos de maneira política», diz.
Nas últimas semanas, Santos anunciou que um duro crítico de Uribe, Juan Camilo Restrepo, será seu ministro da Agricultura e que Maria Angela Holguín, também rompida com o atual presidente, será sua chanceler.
Segundo Prieto, Santos, ex-ministro da Defesa de Uribe, não ignora o delicado tema da presença das Farc na Venezuela, mas crê que deve abordá-lo após o estabelecimento de frentes diplomáticas com Caracas em assuntos menos controversos, como integração física.