ORTOGRAFIA DEL PORTUGUÉS

ORTOGRAFIA

Acre repudia Acordo, que adota o termo «acriano»

DA AGÊNCIA FOLHA

Cento e seis anos após a declaração de sua independência da Bolívia, um movimento de resistência toma forma no Acre. O inimigo agora é o Acordo Ortográfico, que transformou «acreanos» em «acrianos». A opção, segundo a Academia Acreana de Letras, sempre foi facultativa, mas o «i» nunca foi usado nas ruas, documentos, hino ou no nome da entidade.
«»Acriano» soa esquisito. Somos «acreanos» há mais de cem anos, quando decidimos que não éramos bolivianos, e, sim, brasileiros (…). A mudança mexe nas nossas raízes históricas e culturais», diz a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B-AC), que lidera o movimento.
A reação conta com políticos, jornalistas e intelectuais do Estado, que prometem criar um blog, no site da Assembleia Legislativa, para dar início ao «Fórum de Defesa da Nossa Acreanidade». No espaço, as pessoas vão poder manifestar repúdio ou apoio à mudança ortográfica.
Almeida promete fazer contato com acrianos famosos para «reforçar» o movimento, como a escritora Glória Perez e o jornalista Armando Nogueira.
Para evitar a mudança, a Academia Acreana de Letras terá de manifestar um posicionamento oficial sobre o assunto e apresentar um recurso à ABL (Academia Brasileira de Letras).
Luísa Galvão Lessa, pós-doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Universidade de Montreal (Canadá) e membro da academia acriana, ainda argumenta que a regra vale para nomes de pessoas, mas não para palavras referentes a localidades.
O coordenador do novo «Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa», Evanildo Bechara, diz que o sufixo «iano» é empregado para nomes terminados em «e» -um exemplo é «Açores», que dá origem a «açoriano».
A Academia Brasileira de Letras diz considerar as manifestações positivas, porque, assim, a sociedade pode discutir questões relacionadas à língua. (MATHEUS PICHONELLI)

Fuente: Folha de S. Paulo, 25 de marzo de 2009)

Critério movediço embasa Volp

Critério movediço embasa Volp

THAIS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Finalmente, chega às livrarias a nova edição do Volp («Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa»), aguardada como a palavra final sobre as questões suscitadas pelo texto oficial do Acordo, sabidamente lacunar, sujeito a interpretações.
Compreende-se que a tarefa exigisse escolhas, mas a expectativa era que os pontos explicitados no texto oficial não sofressem modificações. Do mesmo modo, o que não foi mencionado, por pressuposto, permaneceria como estava, afinal, trata-se de reformar, não de demolir. Com base nisso, acertadamente, a equipe não hesitou diante da falta de referência ao prefixo «re-» no texto oficial. Como, no sistema anterior, esse prefixo não se separava por hífen em nenhuma situação, era mesmo desnecessário interferir em grafias consolidadas, fato que, além de desafiar a tradição ortográfica da língua, seria um acinte ao princípio da simplificação, apregoado por toda e qualquer reforma ortográfica. Pelo menos em tese, ninguém faz reforma para complicar.
Já o prefixo «co-» requeria, de fato, sistematização. Na convenção anterior, encontrávamos «corresponder» e «co-responsável», «co-edição» e «coexistência», «co-herdeiro» e «coabitar» etc. No texto oficial, o prefixo «co-» aparece entre aqueles que requerem o hífen diante de termos iniciados por «h» -e lá está «co-herdeiro», mantida a grafia antiga, segundo o critério novo. Causa surpresa, portanto, o registro da grafia «coerdeiro», numa aglutinação que não só contraria o texto oficial como não encontra eco na tradição.
Enquanto o «h» de «coerdeiro» desaparece em nome da simplificação, o de «sub-humano» ressuscita em grafia que passa a coexistir com «subumano», embora esta apareça seguida de dois intrigantes pontos de interrogação. Brandida como justificativa para a manutenção de diversas grafias duplas («carbo-hidrato»e «carboidrato», «ab-rupto» e «abrupto» etc.), a tradição parece ter sido um critério movediço.
O acento diferencial de «côa» permanece na edição nova do Volp, muito embora, segundo o texto oficial, devam permanecer apenas os das formas «pôr» e «pôde». Mais inusitado do que isso talvez seja o resgate da forma «bem-querença», que havia muito já não frequentava nossos dicionários. Entenda-se: o Acordo propôs a aglutinação das formas «benfeito» e «benquerer» com base na propalada perda da percepção dos elementos constitutivos das palavras -e a prova disso estava nos cognatos aglutinados, como «benfeitor» e «benquerença».
«Bem-querer» ganhou dupla grafia, mas «benfeito» ficou, de fato, aglutinado. O verbo «sotopor» assume a forma «soto-pôr», seguindo à risca a letra do Acordo e passando ao largo dos ditames da tradição. Na conjugação do verbo, porém, o hífen desaparece («sotoposto»). Muda a grafia só do infinitivo: nem simplificação nem respeito à tradição. Bem ou mal, está assim consolidada a ortografia do português do Brasil.

THAIS NICOLETI DE CAMARGO é consultora de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL

(Fuente: Folha de S. Paulo, 21 de marzo de 2009, cuaderno Cotidiano)

Linguistas criticam publicação de vocabulário

Linguistas criticam publicação de vocabulário

Para membros de comissão ligada ao MEC, ABL deveria ter consultado outros países

Coordenador da publicação diz que, caso Portugal questione a posição da ABL, a academia irá «defender o ponto de vista dela»

LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Lançada anteontem, a nova edição do Volp («Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa») não deveria ser publicada agora, sem que os outros países tivessem sido consultados, dizem linguistas. A publicação já traz a grafia nova de palavras alteradas pelo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor no início deste ano.
De nove dos 17 membros da Colip (Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa, ligada ao Ministério da Educação) ouvidos pela Folha, seis criticaram a posição da ABL (Academia Brasileira de Letras) de publicar a obra sem discutir lacunas do Acordo com as outras nações lusófonas.
Na opinião desses especialistas, Portugal pode questionar a escolha da grafia de algumas palavras pela ABL. O hífen, por exemplo, gerou muitas dúvidas, uma vez que o Acordo não era claro sobre a sua utilização, ou seja, a ABL decidiu internamente a grafia de muitas palavras e expressões, como «coerdeiro», sem hífen e sem a letra «h», embora o texto oficial indicasse o uso de «co-herdeiro».
«Não entendo como um acordo internacional tenha sido interpretado como sendo de execução de um só país», diz Gilvan Müller de Oliveira, professor de linguística da UFSC e diretor do Ipol (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística).
José Luiz Fiorin, professor da USP e autor de livros sobre linguística, tem opinião semelhante: «O fato de o Brasil publicar um vocabulário ortográfico dá a impressão de que ele está querendo governar a implantação do Acordo».
Para Fiorin, a publicação do Volp pode gerar um mal-estar com os outros países. «O Brasil deveria estar atento para isso, não levantando mais suscetibilidade nenhuma», diz, lembrando o fato de alguns portugueses terem reclamado das mudanças provocadas pelo Acordo -enquanto apenas 0,5% do vocabulário brasileiro foi modificado, em Portugal a mudança chegou a 1,5%.
O professor diz que «não é possível que alguém ache que se trata de um vocabulário definitivo, uma vez que o Acordo é explícito» em relação à criação de um «vocabulário ortográfico comum».
Segundo Godofredo de Oliveira, presidente da Colip, «o entendimento é que este vocabulário é a contribuição brasileira para o Volp, o que implica dizer também que, se lá na frente houver alguma pequena adequação, a academia deve estar pronta para fazê-la».
Evanildo Bechara, coordenador da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da ABL e coordenador da elaboração do Volp, argumenta que, «se os portugueses seguirem o Acordo que eles assinaram, o vocabulário será igual».
Sobre a escolha de «coerdeiro», sem hífen e sem «h», e de palavras cuja grafia o texto do Acordo não esclarece, ele diz que a tradição foi levada em conta. Segundo Bechara, «nenhum ponto de vista adotado pela academia é aleatório» e, caso Portugal questione a posição da ABL, a academia irá «defender o ponto de vista dela».
Sobre uma reunião que a Colip quer fazer com os outros países, Bechara diz não entender «como é que vão fazer reuniões para modificar aquilo que está de acordo com o que ficou decidido num acordo». «Olha, acontece o seguinte: se partíssemos do pressuposto de que não deveríamos fazer o vocabulário agora, porque dentro de algum tempo haveria alterações, o homem estaria ainda no tempo das cavernas.»
Paulo Coimbra Guedes, da Colip e professor da UFRGS, concorda com Bechara. Ele diz que a ABL fez certo ao tomar a dianteira e lançar o Volp. «Não é culpa nossa se a gente tem muito mais habitantes que eles e se a gente é economicamente muito mais importante», diz.
O Volp custa R$ 120. A ABL ainda não sabe quando ele estará disponível para consulta na internet.

(Fuente: Folha de São Paulo, 21 de marzo de 2009, cuaderno Cotidiano)