Chávez ameaça tomar ações de emissora

Chávez ameaça tomar ações de emissora
DE CARACAS

Autoridades venezuelanas anunciaram ontem intervenção em três empresas financeiras ligadas ao Banco Federal, sob intervenção desde segunda e cujo presidente, Nelson Mezerhane, também é um dos maiores acionistas do canal de TV Globovisión.
Em cadeia de rádio e TV, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sugeriu que as investigações do problema financeiro do banco podem levar o governo a reivindicar as ações de Mezerhane na emissora de TV.
Disse ainda que Guillermo Zuloaga, presidente da Globovisión e foragido -é acusado de «usura genérica» e formação de quadrilha-, «terá que aparecer para que a gente se entenda sobre esse canal».
Já Mezerhane diz que a ação do governo visa atacar a emissora, de aberta oposição a Chávez. Diz também que seu banco foi alvo de um ataque especulativo provocado pelo próprio Chávez, que ameaçou tomar o controle da instituição em dezembro.
Uma equipe da TV venezuelana foi recebida ontem aos gritos por correntistas na sede do banco, em Caracas. Os clientes -são quase 300 mil- diziam, na transmissão ao vivo, que Chávez era o culpado pela situação, que sua motivação é política.
A intervenção no Banco Federal causa ainda mais nervosismo porque é «a portas fechadas». A instituição ficará fechada por 60 dias até que se decida se ele será liquidado ou incorporado à banca pública.
Para acalmar os correntistas, o governo anunciou ontem que começará a entregar, na próxima semana, os depósitos dos clientes por meios dos bancos públicos. Mais de 90% deles têm depósitos de menos de US$ 7.000 dólares, teto garantido pelo Fundo de Garantia de Depósitos e Proteção Bancária.
Economistas e analistas de mercado não descartam o viés político da ação. Dizem, porém, que os números do Federal demonstravam debilidade que punha em risco os correntistas e o sistema.
«Do ponto de vista estritamente financeiro, o banco tinha uma posição frágil. O lucro caiu mais de 80% no último ano», disse à Folha Aristimuño Herrera, diretor da consultoria de mesmo nome.
O governo venezuelano controla 26% do sistema bancário, mas os analistas não consideram que esteja iminente uma nova investida para avançar no setor. (FM)

(Fuente: Folha de S. Paulo de 17 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Democracia não se impõe, diz Insulza sobre a Venezuela

Democracia não se impõe, diz Insulza sobre a Venezuela
Criticado por suposta condescendência com Chávez, dirigente da OEA ataca «intervencionismo disfarçado»

Governo venezuelano é acusado de ameaçar os jornalistas e a imprensa quatro meses antes das eleições legislativas

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, afirmou ontem, ao ser questionado sobre a situação na Venezuela, que a «democracia não se impõe de fora».
«Podemos mandar 50 missões [da OEA], mas o problema da democracia na Venezuela só será resolvido pela Venezuela», disse. O chileno disse defender um «multilateralismo de diálogo e inclusão, ainda que mais difícil, e não de imposição».
«Não é o velho intervencionismo disfarçado», disse, antes de destacar que nenhum país solicitou formalmente o envio de missão à Venezuela.
Em audiência na Câmara dos Representantes (deputados) americana, anteontem, Catalina Botero, relatora para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA, afirmou que restrições a jornalistas e meios críticos na Venezuela atingem níveis «intoleráveis».
Previu ainda que o acosso irá piorar por conta das eleições legislativas venezuelanas, em setembro.

GLOBOVISIÓN
Às críticas dela se uniram as de seu colega da ONU, Frank de La Rue, que urgiu Caracas a revogar a ordem de prisão contra o presidente e acionista majoritário do canal Globovisión, Guillermo Zuloaga. O governo Chávez pediu a destituição de La Rue, que classificou de agente do «império» (os EUA).
Zuloaga e seu filho tiveram ordem de detenção decretada há uma semana por usura genérica e formação de quadrilha pela suposta ocultação de 24 veículos. Eles dizem ser perseguidos.
Ontem, o presidente venezuelano voltou a se referir ao caso em cadeia de rádio e TV. Cobrou que Zuloaga, foragido, não seja «covarde» e «dê as caras». Citou também a intervenção do Banco Federal, cujo presidente, Nelson Mezerhane, também é acionista da Globovisión.
O banco, com quase 300 mil correntistas, está fechado desde segunda porque o governo alega que a falta de liquidez da instituição prejudicaria os seus clientes e o sistema bancário. Chávez já insinuou que pode tomar as ações de Mezerhane na TV.
Somando anteontem e ontem, Chávez ficou no ar, em cadeia nacional de rádio de TV, mais de cinco horas. A quatro meses das eleições legislativas, ele tem feito intervenções de transmissão obrigatória quase diárias.
Ontem um membro do Conselho Nacional Eleitoral tentou pôr o tema em debate, mas ficou isolado

(Fuente: Folha de S. Paulo de 18 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Chávez reforma estatal após «escândalo da comida»

Chávez reforma estatal após «escândalo da comida»
DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, decidiu ontem, por decreto, que a empresa pública de importação de alimentos PDVAL, ligada à estatal petroleira PDVSA, agora responderá à Vice-Presidência da República.
A mudança é uma reação ao escândalo pelo achado de contêineres com toneladas de comida importadas pelo governo fora do prazo de validade ou podres.
Ao menos três ex-diretores da PDVAL, criada em 2008, estão presos. A transferência de responsabilidade da companhia acontece após Chávez, no fim de maio, ter defendido o poderoso presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, no caso.
O escândalo que ganha manchetes quase diárias da imprensa majoritariamente antigoverno é um problema para o presidente, que atribui a escassez esporádica de itens da cesta básica e a inflação de 14,2% neste ano à especulação de empresários.
Segundo o respeitado instituto de pesquisas Datanálisis, a popularidade de Chávez se recuperou do piso de 44% em maio para cerca de 48% em junho, numa alta atribuída ao reforço do discurso confrontacional do presidente e ao aumento do número de cadeias obrigatórias de rádio e TV.
A pouco mais de três meses das eleições legislativas, Chávez também reformou o seu gabinete ontem.
Sete ministros que disputarão cadeiras na Assembleia Legislativa em setembro foram substituídos. O decreto determina ainda o desmembramento do superministério do Poder Popular para Obras Públicas e Moradia, criado apenas há um ano e meio, nas pastas de Transporte e Comunicação e de Moradia.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 24 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Venezuela manda prender outro sócio de TV crítica

Venezuela manda prender outro sócio de TV crítica
Nelson Mezerhane, do canal Globovisión, é acusado de fraudes em banco

Empresário comanda o Banco Federal, hoje sob intervenção do governo, e é sócio do único canal anti-Chávez ainda no ar

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

A Justiça da Venezuela emitiu ordem de captura do dono do Banco Federal, Nelson Mezerhane, cuja instituição está sob intervenção do governo desde 14 de junho por falta de liquidez e supostas operações irregulares.
Mezerhane, também sócio do Globovisión, TV que faz aberta oposição ao governo Hugo Chávez, diz que ação contra ele e banco é política.
O anúncio da ordem de captura foi feito ontem pela procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, em seu programa em uma rádio estatal. O pedido fora aceito pela Justiça no dia anterior.
O banqueiro é acusado de ligação com supostas fraudes ocorridas no banco e de transferir dinheiro para o exterior «em prejuízo dos correntistas», quase 300 mil, e empresas públicas clientes. Outros 18 diretores do banco estão proibidos de deixar o país há 15 dias.
Ainda em 14 de junho, Mezerhane disse em entrevista à Globovisión que estava fora da Venezuela. Chegou a ir na mesma semana a um estúdio da TV americana CNN em Espanhol, mas desde então não fez mais aparições públicas.
Além do banqueiro, também está sendo procurado pela polícia venezuelana e pela Interpol outro sócio da Globovisión: o presidente do canal, Guillermo Zuloaga.
Zuloaga e o filho, que estão foragidos, são acusados de «usura genérica» por esconderem 24 veículos na residência da família, dona de concessionária, para promover a especulação de preços. ONGs de direitos humanos e relatorias para liberdade de expressão da ONU e da OEA condenaram a ordem de prisão. Os grupos dizem haver uma estratégia intimidatória por parte de Chávez.

INTERVENÇÃO
Dias após as ordens de prisão contra Zuloaga e Mezerhane, o presidente venezuelano sugeriu que pode tomar o controle das ações do banqueiro na Globovisión, a única TV crítica ainda no ar. O Banco Federal está sob intervenção branca desde o fim de 2009. Economistas e analistas não descartam haver viés político na ação contra a instituição, mas dizem que havia uma debilidade que punha clientes em risco.
A intervenção foi apoiada pela associação de bancos venezuelana, mas Mezerhane afirma que a fragilidade foi gerada pelo próprio Chávez, que promoveu um «ataque especulativo» ao ameaçar controlar o banco. O governo interveio ainda em três empresas financeiras ligadas ao Federal, mas já começou a devolver o dinheiro de correntistas afetados.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 02 de julio de 2010, cuaderno Mundo)

«Intolerância de Chávez silencia mídia»

«Intolerância de Chávez silencia mídia»
Segundo a relatora para a liberdade de expressão da OEA, governo se utiliza do código penal contra jornalistas

Catalina Botero diz não ter recebido resposta a carta ao governo com críticas; «a situação é muito grave», afirma

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

A intolerância do governo Chávez às críticas se reflete no uso do código penal para silenciar jornalistas críticos.
A declaração é de Catalina Botero, relatora especial para a Liberdade de Expressão da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), da OEA (Organização dos Estados Americanos). À Folha ela diz que não recebeu resposta à nota que enviou ao governo, criticando a condenação de um jornalista a três anos de prisão e a ordem de detenção do dono da TV oposicionista Globovisión, Guillermo Zuloaga.
Botero deve tratar o tema hoje na apresentação que fará ante a Subcomissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA. Chávez costuma dizer que a comissão é parcial e repetiu a crítica na entrevista ao programa HardTalk, da BBC de Londres. Suas críticas à OEA e as respostas às incômodas perguntas do jornalista britânico foram repetidas várias vezes ontem na Globovisión.

Folha – Na nota enviada ao governo Chávez, a comissão faz pontuações específicas. Receberam alguma resposta?
Catalina Botero – Esperamos que o Estado nos envie a informação que solicitamos. Há a oferta de que trabalhemos juntos para superar os problemas. Não recebemos resposta. É com espírito construtivo que fazemos as pontuações específicas.

A comissão espera que as restrições à liberdade de expressão piorem com a proximidade das eleições legislativas?
Como a comissão disse em seu último informe, a situação é muito grave. A existência de um marco jurídico inadequado, a intolerância do Executivo às críticas da dissidência e a falta de independência e autonomia do Poder Judiciário constituem importantes debilidades à democracia venezuelana e comprometem de modo sensível o direito de liberdade de expressão.

A nota também fala da condenação à prisão de um jornalista que escreveu uma coluna sobre suposto ato de corrupção de um chavista.
Hoje em dia não é raro que se use o direito penal para silenciar jornalistas críticos ou dissidentes políticos. Parece que as autoridades se esqueceram que um importante valor para uma democracia vigorosa é a existência de um debate aberto, plural e sem inibições sobre todos os assuntos públicos, ainda que ele seja incômodo ou perturbador para uma parte da sociedade.

Chávez afirma que não há país mais democrático que a Venezuela

(Fuente: Folha de S. Paulo de 16 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Lei chavista facilita expropriação agrária

Lei chavista facilita expropriação agrária
Texto permite tomada de terreno se uso contrariar planos nacionais de desenvolvimento e segurança alimentar

Assembleia aprova nova regra, festejada como passo rumo ao socialismo; Chávez ainda precisa sancionar

Palácio Miraflores/Reuters

O presidente Hugo Chávez em visita a fábrica automotiva em Maracay; governo já expropriou 10% das terras do país

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

A Assembleia Nacional da Venezuela, dominada pelo chavismo, aprovou anteontem à noite reforma na lei de terras que proíbe qualquer tipo de concessão de terras a terceiros -quer de maneira remunerada ou não.
O texto também diz que a produção agrícola deverá se ajustar aos parâmetros determinados pelo governo para garantir a segurança alimentar do país, que importa mais de 80% da comida que consome, boa parte do Brasil.
O governo Chávez diz ter expropriado ou comprado 2,7 milhões de hectares de terras desde 1999 -há estimados 30 milhões de hectares cultiváveis no país- e afirma que o objetivo de médio prazo é exportar comida.
A nova redação da lei, que tem de ser sancionada pelo presidente Hugo Chávez, foi criticada por organismos empresariais e agrários. Para eles, as regras aprofundam a insegurança jurídica no país, freando investimentos.
O texto determina que as fazendas e os terrenos podem ser expropriados se forem considerados ociosos, se forem cedidos a terceiros e se «sua utilização for contrária aos planos nacionais de desenvolvimento e segurança agroalimentar».
Os deputados governistas festejaram a aprovação como passo rumo ao socialismo.

ESCÂNDALO
«Trata-se da segunda mudança na lei aprovada em 2001. Estão armando uma montagem legal para dar lastro a ações inconstitucionais do governo. Vamos à Justiça reclamar», disse à Folha Rafael Hernández, da ONG opositora Cedice. O setor de alimentos é estratégico para o governo Chávez. Como o país depende da importação, o raciocínio é que deixá-lo em mãos privadas poderia desaguar em crise de desabastecimento intencional, com o objetivo de enfraquecer o chavismo.
O governo controla agora 75% da produção de café e quase a metade da produção de milho, base da alimentação local. Mas a maior participação já traz problemas. Desde o fim de maio Chávez enfrenta o «escândalo da comida», o achado de ao menos 70 mil toneladas de comida vencida ou podre num porto.
Mesmo economistas ligados ao chavismo criticam as nacionalizações, ante a falta de quadros gerenciais. Segundo o Banco Central da Venezuela, o setor público e suas empresas responderam por 30,3% do PIB venezuelano em 2009. Além da maior parte do setor petroleiro, o governo é dono das maiores empresas de telefonia e de eletricidade.

Audiência no Congresso dos EUA debate cerco à imprensa na Venezuela

(Fuente: Folha de S. Paulo de 17 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Chávez intervém em banco ligado a TV

Chávez intervém em banco ligado a TV
Presidente de instituição diz que o governo venezuelano quer obrigar a opositora Globovisión a «ajoelhar-se’

Na sexta, Justiça havia decretado prisão de dono da emissora, que está foragido e afirma que não vai se entregar

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O governo da Venezuela interveio ontem no Banco Federal, cujo presidente é acionista do canal Globovisión, crítico ferrenho de Hugo Chávez. A superintendência estatal de bancos alegou que a instituição tinha problemas de liquidez e que havia indícios de irregularidades.
A ação acontece apenas três dias depois de a Justiça determinar a prisão de Guillermo Zuloaga, presidente da Globovisión, e de seu filho. Não se sabe o paradeiro de ambos, acusados de «usura genérica» e de formação de quadrilha por suposta ocultação de 24 veículos.
Ontem, o presidente do Banco Federal, Nelson Mezerhane, afirmou em entrevista à Globovisión que as acusações de falta de liquidez do banco «são totalmente falsas» e acusou o governo de querer obrigar a TV a «ajoelhar-se». Disse ainda que funcionários de Chávez teriam tentado comprar a TV, a única de aberta oposição ao governo no ar no país.
Já Zuloaga falou pela primeira vez desde sexta-feira, quando foi decretada sua ordem de prisão. Afirmou que não se entregará à Justiça.
«Se me entregasse não faria nenhum favor nem a mim, nem ao país, nem à minha família», disse à Globovisión, alegando que apenas cederia a «chantagem» do governo que quer calar a TV e «distrair a população» dos problemas do país.
A ordem de detenção de Zuloaga foi condenada ontem pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos). Já havia sido criticada na sexta pela Sociedade Interamericana de Imprensa.
O Departamento de Estado americano demonstrou «preocupação» e ligou a ação a outros supostos ataques do governo venezuelano à liberdade de expressão.
Em nota assinada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro e pela colombiana Catalina Botero, a CIDH criticou o «consenso» entre os Poderes na Venezuela e falta de independência do Judiciário.
A comissão também critica a condenação a três anos de prisão, também na sexta, de um jornalista da cidade de Valência, após ter escrito coluna sobre suposto ato de corrupção do prefeito chavista da cidade.
O texto enviado ao governo Chávez lembrou que a ação contra o presidente da Globovisión ocorreu poucos dias após o próprio presidente venezuelano queixar-se, em cadeia de rádio e TV, que o empresário seguisse livre após a acusação de usura.
Em março, Zuloaga foi detido por algumas horas e impedido de deixar o país, acusado de «vilipendiar» a figura do presidente em um evento em Aruba, em fevereiro.

CRISE CAMBIAL
Se a ordem de prisão de Zuloaga e seu filho foi amplamente criticada, a intervenção no Banco Federal, mediano no mercado venezuelano, foi respaldada pela associação de bancos privados.
A intervenção no banco (com 152 agências) traz nervosismo em meio à instalação de um novo esquema de transação cambiária, que estreou na semana passada.
Anteontem, Chávez ameaçou tirar todos os depósitos estatais da banca privada.
Em novembro passado, o governo já havia tomado o controle de nove pequenos bancos -a maioria de banqueiros próximos do chavismo- sob acusação de fraude. Vários envolvidos estão presos, outros foragidos.
O Estado controla agora 26% da banca, segundo cálculos de economistas locais.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 15 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Alternativas a Chávez

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Presidente da Venezuela insiste na polarização do país, mas surgimento de partido moderado indica que tática pode ser superada
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Ao manipular a Justiça da Venezuela e determinar a prisão do presidente da TV Globovisión, canal crítico ao governo, Hugo Chávez mais uma vez se valeu, na semana passada, de sua principal tática política. O incitamento à polarização da sociedade venezuelana, dividida entre aliados e inimigos do regime, tem permitido ao mandatário galvanizar expressivo apoio popular, aumentar o controle sobre as frágeis instituições do país e arregimentar uma milícia que age como guarda pretoriana.
A confluência de crescentes dificuldades econômicas e um decisivo pleito para renovar a composição da Assembleia Legislativa, a ser realizado em setembro, devem tornar cada vez mais frequentes atitudes intimidatórias e diversionistas por parte do caudilho.
O PIB encolheu quase 6% no primeiro trimestre do ano; e a inflação, até maio, já acumulava alta de 14%. Os dois péssimos resultados se combinam para deprimir a renda dos venezuelanos.
Carente de recursos, o governo também tem sido obrigado a flexibilizar sua política de valorização artificial da moeda.
Por anos perdurou uma cotação oficial do dólar que elevava o poder aquisitivo da população -num país em que a maior parte dos produtos de consumo é importada. O custo era arcado pelo governo e pela estatal petrolífera, a PDVSA, que viam reduzidas as receitas advindas da exportação do petróleo.
A crise econômica mundial, o recuo nos preços da commodity e a ineficiência administrativa do chavismo impediram a manutenção do populismo cambial.
A soma de problemas tem cobrado seu preço político. Pesquisas indicam que a popularidade do governo caiu da casa dos 70% para oscilar, nos últimos dois anos, entre 40% e 50%.
Em meio às dificuldades, aumentam as chances de mudança. Antes de tudo porque a oposição não repetirá, nas eleições legislativas de setembro, a estapafúrdia estratégia de 2005, quando abandonou a disputa.
Mas a principal notícia nesse front vem de um grupo de dissidentes do chavismo, liderado pelo governador do Estado de Lara, Henri Falcón. Sua nova legenda, Pátria Para Todos, defende o rompimento com a lógica política polarizada que divide o país.
Falcón elogia a elevação do padrão de vida da parcela mais pobre da população sob Hugo Chávez, mas condena o militarismo do mandatário, as arbitrariedades do governo, o ambiente de insegurança jurídica e a perseguição à iniciativa privada.
É improvável que a nova força suplante os chavistas e os opositores tradicionais na composição da Assembleia. Mas o real exercício democrático depende da consolidação de partidos moderados, capazes de negociar e fazer concessões. O simples surgimento de uma legenda centrista já deve ser saudado como um avanço na política do país vizinho.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 15 de junio de 2010, cuaderno Opinião)

Chávez anuncia fim parcial dos apagões

Chávez anuncia fim parcial dos apagões
Dias após ampliar emergência energética, líder susta racionamento em vários Estados

DE CARACAS

Dois dias após decretar a prorrogação da emergência energética no país, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou anteontem, na TV, o fim dos apagões programados em vários Estados do país.
Os cortes de até seis horas diárias vigoravam desde fevereiro -a exceção era a capital, Caracas- para economizar energia ante o risco de colapso da hidrelétrica de Guri, responsável por 73% do fornecimento energético.
Chávez disse que, com as chuvas recentes, a represa de Guri recuperou capacidade de geração, mas admitiu que o país ainda não está fora de risco e que cortes podem acontecer nas horas de pico.
Os consumidores públicos e privados seguem obrigados a reduzir em 10% o consumo, sob pena de multa, e o expediente do funcionalismo segue reduzido até 30 de julho.
A Venezuela não participa da Copa, mas o presidente disse que o torneio é um fator que pesou na hora de decretar o fim dos cortes.
Segundo ele, «sustentar os racionamentos por mais tempo, especialmente às vésperas do início do Mundial de futebol», teria «efeito negativo» na população.
A crise energética afeta o país desde novembro -é um dos fatores da queda 5,8% do PIB no primeiro trimestre.
O racionamento também provocou protestos em Caracas e no interior e afetou a popularidade do presidente, a poucos meses das eleições legislativas de setembro.
Para analistas do setor, além da seca, afetam o sistema elétrico falta de investimento e de manutenção.

(Fuente: Folha de S. Paulo 12 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

«Mártir das expropriações» irrita Chávez

«Mártir das expropriações» irrita Chávez
Produtor rural radicaliza greve de fome, e governo promove entrevista coletiva para expor sua versão do caso

Governo sustenta que já atendeu os pedidos do ativista e afirma que os opositores querem manipular o episódio

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Em greve de fome há mais de cem dias e sem beber líquidos há pelo menos 15, o produtor rural Franklin Brito diz que só deixará o protesto quando o governo Hugo Chávez revogar a expropriação de suas terras no Estado de Bolívar (sul).
Caracas diz que já atendeu o pedido de Brito e acusa a oposição de manipulá-lo.
O caso de Brito se arrasta desde 2005, mas com sua decisão de radicalizar o jejum e a piora de sua saúde, o governo resolveu, ontem, convocar jornalistas e órgãos como a ONU e a OEA (Organização dos Estados Americanos) para falar do tema.
«Estamos respeitando o direito de greve de fome, mas, ao mesmo tempo, e por ordem judicial, estamos preservando sua vida», disse Earle Siso, diretor do hospital militar onde Brito está internado desde janeiro.
O chanceler Nicolás Maduro e o vice-presidente Elías Jaua também participaram da entrevista coletiva e acusaram a oposição de orquestrar «uma campanha internacional» contra Chávez.
O temor é que a oposição faça de Brito «o primeiro mártir das expropriações».
Sua filha, Angela, 20, disse que é vedada a entrada de membros da Cruz Vermelha Internacional no hospital, como solicitado pelo pai.
«Ele não quer ser tratado pelos médicos daqui», disse à Folha, na segunda, quando os advogados de Brito foram à Justiça exigir a permissão. «Não nos falam nada sobre a saúde dele.»
Ontem, o governo afirmou que a Cruz Vermelha está autorizada a visitá-lo.
Brito já fez ao menos cinco greves de fome e, em 2005, cortou um dedo ante às câmeras de TV também para protestar.
Angela diz que o pai recebeu o equivalente a US$ 186 mil do governo, mas que quer devolver porque exige que Caracas reconheça que se trata de uma indenização pelos danos causados.
«Ele está sequestrado», afirmou a líder do oposicionista Um Novo Tempo, Delsa Solórzano.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 11 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

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