Hillary pede volta de Honduras à OEA

Hillary pede volta de Honduras à OEA
Organização cria grupo para debater reintegração, tema que divide países-membros em cúpula sediada no Peru Itam

araty condiciona decisão à reintegração do presidente deposto Manuel Zelaya à vida política hondurenha

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

A Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) prevê aprovar hoje em Lima a criação de comissão de «alto nível» para avaliar a situação política de Honduras, suspensa da entidade desde o golpe de Estado contra Manuel Zelaya, há quase um ano.
O anúncio foi feito ontem à noite pelo chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde. Segundo ele, o parecer emitido pela comissão guiaria a decisão sobre o retorno do país à OEA.
A ideia de criar a instância para Honduras, que deve ser agregada à resolução final da reunião, é um ensaio de resposta à divisão entre os países sobre o tema, que não estava na agenda oficial da reunião anual de chanceleres.
Enquanto a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu ontem em Lima o fim da suspensão de Tegucigalpa, a delegação brasileira, chefiada pelo secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, disse que o governo hondurenho tem de tomar medidas específicas -como criar condições para a volta de Zelaya- para ter de novo status pleno na OEA.
A resistência à reintegração de Honduras não abarca só os sul-americanos -a exceção são Colômbia e Peru, os mais próximos aliados de Washington na região.
Segundo o jornal «New York Times», o governo do mexicano Felipe Calderón não acompanha o pedido dos vizinhos centro-americanos pela reintegração.
A «comissão de alto nível», explicou o chanceler peruano, foi proposta pelo país e pelo secretário-geral da OEA, chileno José Miguel Insulza.
Dada as divergências expostas pelos países, Belaúnde descartou que a comissão seja formada por chanceleres da região. Citou «juristas e especialistas de alto nível» na composição, segundo a Andina, a agência estatal local.
A instância teria até julho para se pronunciar. Honduras cobrou neutralidade.
A OEA já coordena os trabalhos da Comissão da Verdade, destinada a apurar o episódio do golpe. Vários países, entre eles o Brasil, fazem reparos às limitações de trabalho do grupo, criado por decreto pelo presidente de Honduras, Porfirio Lobo.
Esse é outro ponto de divergência com os EUA, já que Hillary repetiu ontem que Lobo tem «demonstrado consistente e forte compromisso com um governo democrático». E um dos sinais do compromisso seria a criação da Comissão da Verdade.

HILLARY E PATRIOTA
Outro tema delicado são as violações de direitos humanos em Honduras, que, segundo relatório preliminar da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) da OEA divulgado ontem, não cessaram sob Lobo.
Após visitar o país em maio, a CIDH afirma que «as denúncias recebidas poderiam responder ao mesmo padrão de violência originado no contexto do golpe».
O texto alerta que apenas uma pessoa está presa ante ao menos dez assassinatos de opositores do golpe.
A comissão alerta ainda para uma «militarização» do governo. Aponta que vários dos chefes militares então na cúpula das Forças Armadas quando da expulsão de Zelaya do país hoje ocupam cargos importantes sob Lobo.
Hillary e Patriota tiveram encontro privado em Lima.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 08 de junio de 2010, cuaderno Mundo)

Ex-mulher de Llosa tem livro reeditado

LITERATURA

Ex-mulher de Llosa tem livro reeditado

A editora boliviana La Hoguera vai reeditar a autobiografia da primeira mulher do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Julia Urquidi, que morreu em março deste ano, aos 84.
Publicado pela primeira vez em 1983, «Lo que Varguitas No Dijo» (o que «Varguitas» não disse) é uma resposta ao livro de Vargas Llosa, «La Tía Julia y el Escribidor» (a tia Julia e o escritor), no qual conta sua história de amor com Urquidi, que também era sua tia.
Promete ser a principal novidade de feira a ser realizada em junho na Bolívia.
(Fuente: Folha de S. Paulo de 24 de mayo de 2010 cuaderno Ilustrada)

Na prisão, Fujimori recebe até 180 visitantes por dia

Na prisão, Fujimori recebe até 180 visitantes por dia
DA REDAÇÃO

O governo peruano decidiu impor limites ao número e à frequência de visitas na prisão ao ex-presidente Alberto Fujimori, que cumpre pena de 25 anos por corrupção, sequestro e homicídio.
Dezenas de pessoas visitam o ex-mandatário diariamente, segundo reportagem da revista «Caretas» publicada na semana passada.
Em um só dia, ele já chegou a receber 180 pessoas. Muitas são beneficiárias do programa social Vaso de Leche (copo de leite), que distribui alimentos para mulheres, crianças e idosos.
Os visitantes têm direito a almoço e depois ouvem discursos do ex-presidente.
Fujimori, que governou o Peru entre 1990 e 2000, é acusado de fazer campanha dentro da cadeia para sua filha Keiko, que pretende concorrer à Presidência do país nas eleições do ano que vem.
O número de visitantes será limitado a 15 pessoas por dia. As visitas mistas, com presença de mulheres, só poderão ocorrer em «datas especiais», como Dia das Mães, Natal e Ano Novo, afirmou o ministro da Justiça, Víctor García Toma.
Não há norma específica na legislação do país que limite o número de visitantes a presos. «Não é ilegal», disse García Toma. «Mas não concordamos que um preso receba 180 visitas em um único dia; não é justo.»
——————————————————————–
Com agências internacionais

Diaz leva relação com «o outro» a palco carioca

Diaz leva relação com «o outro» a palco carioca
Ator dirige peça criada a partir de experiências pelas ruas do Rio de Janeiro

«Otro» foi financiado por festivais internacionais e será apresentado pela Europa antes de chegar a outras cidades brasileiras

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

Enrique Diaz não está no palco de um teatro, sua «casa» há 20 anos, mas constrói discursos tão intensos quanto sua forma de encenar para explicar seu novo espetáculo, «Otro».
«É algo bem diverso, inacabado e complexo. É desdramatizado, ligado à contemplação.»
Aos 42 anos, Kike, como é conhecido, assina a direção de «Otro» com Cristina Moura, além de atuar no espetáculo, criado com o Coletivo Improviso, grupo de «geometria variável» que reúne atores, bailarinos, músicos e coreógrafos.
Coproduzido pelo Templo Festival das Artes, o espetáculo está em cartaz no Rio e viajará para a Europa e para o Japão.
Em cenas fragmentadas, «Otro» volta-se para a alteridade. O grupo fez três meses de «residências artísticas» pela cidade do Rio e mais quatro meses de ensaios. O processo lembra o de um documentário, mas surge no palco como subjetividade. Exemplo: um membro do grupo usou venda nos olhos na área de embarque das barcas Rio-Niterói. Carregava cartaz com o texto: «Me ajude a atravessar a baía e fazer uma surpresa para a mulher que amo». No percurso, a pessoa que ofereceu ajuda -ou «o outro»- e o ator travaram uma relação.
«A pessoa se emocionou, pediu o cartaz para mostrar em casa», diz Kike. «Na peça, articulamos isso de forma mais complexa.
Não é só documental, não é só compartilhar a experiência com o público.» Nesta contemplação surge Clarice Lispector, autora já «experimentada» por Kike na montagem de «A Paixão Segundo G.H.», em 2005.
«Ela não abandona a superfície para lidar com abismos. Não deixa a superfície e, ao mesmo tempo, faz o rasgo», avalia.
Em «Otro», diz ele, «isso está no modo de olhar». «Não é um drama, uma comédia, uma tragédia. É como Tchecóv: o que está acontecendo agora, os tropeços, o modo de vestir, a idiossincrasia de cada figura. Tudo está ali», conclui. Mas nada é simplesmente contado.

(Fuente: Folha de S. Paulo em 06 de mayo de 2010, cuaderno Ilustrada)

DE VOLTA A HONDURAS

Toda Mídia

NELSON DE SÁ – nelsonsa@uol.com.br

DE VOLTA A HONDURAS

«O Globo» informou no sábado que Lula cancelou sua viagem a Madri, para a cúpula Europa-América Latina, diante da «insistência do governo espanhol em convidar o presidente de Honduras». Ontem no site de «O Estado de S. Paulo», a reunião da Unasul mostrou que «apenas Peru e Colômbia reconhecem governo».
Já a AP deu que Obama telefonou ao presidente de Honduras para elogiar a instalação de uma «comissão da verdade» sobre o golpe contra Manuel Zelaya -que é questionada pelos zelayistas. Ouvida, a instituição Council on Hemispheric Affairs, dos EUA, lembrou a «persistente violação de direitos humanos» para duvidar do «potencial de paz e reconciliação» em Honduras.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 5 de mayo de 2010 cuaderno Brasil)

Unasul se reúne para eleger Kirchner seu secretário-geral

Unasul se reúne para eleger Kirchner seu secretário-geral
Veto do Uruguai foi retirado após resolução de conflito em torno de fábrica

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A LOS CARDALES

O ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007) deve ser eleito hoje secretário-geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), principal bloco político da região.
Chanceleres e presidentes do bloco, inclusive Luiz Inácio Lula da Silva, participarão de reunião em Los Cardales (a 61 km de Buenos Aires).
A anfitriã, a presidente argentina, Cristina Kirchner, está em campanha pela eleição de seu marido e antecessor. «O candidato argentino é um ex-presidente reconhecido e com bom diálogo político com os principais líderes da região», diz texto divulgado pela Casa Rosada no fim de semana.
O mesmo documento afirma que a candidatura de Kirchner «é abertamente impulsionada pelo Brasil». Diz ainda que os países apoiadores de Kirchner têm consciência da «necessidade de dar um forte apoio ao bloco e emitir um sinal claro de avanço».
O porta-voz de Lula, Marcelo Baumbach, disse ontem que o presidente espera que a eleição de Kirchner «possa marcar nova etapa no processo de consolidação da Unasul, que atravessa momento de indefinição de sua arquitetura institucional».
Opositores do kirchnerismo enumeram entre as razões pelas quais o ex-presidente seria inadequado ao cargo sua parcialidade em favor da Venezuela nos atritos com a Colômbia e o fato de ser o presidente do partido peronista PJ -estando, portanto, comprometido com a representação de uma vertente política de seu país.
A candidatura de Kirchner à Secretaria-Geral da Unasul foi vetada em 2008 pelo então presidente uruguaio Tabaré Vázquez. O veto foi um desdobramento do conflito que opôs os dois países em torno da instalação de uma fábrica de celulose às margens do rio Uruguai, encerrado no mês passado.
Além da candidatura de Kirchner, o bloco deliberará sobre a crise no Paraguai; as medidas para a recuperação pós-terremoto de Haiti e Chile e a possibilidade de o bloco abrir diálogo político com os EUA, além da situação em Honduras três meses após a posse do presidente Porfirio Lobo.

(Fuente: Folha de S. Paulo de 4 de mayo de 2010 cuaderno Mundo)

Filha promete cruzada nacional pró-Fujimori

PERU

Filha promete cruzada nacional pró-Fujimori

DA REDAÇÃO

Um dia depois de o ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000) ser condenado a 25 anos de prisão por ser considerado o autor intelectual de sequestros e assassinatos durante o seu governo, a filha do político, deputada Keiko Fujimori, lançou ontem uma «cruzada nacional» para tentar «limpar o nome» de seu pai.
«Se eles acreditavam que iriam derrotar o fujimorismo com essa sentença, estão muito enganados», disse Keiko, que está entre os candidatos cotados para a campanha presidencial de 2011 no Peru.
Se eleita, promete anistiar Fujimori. «Pretendemos ir até os vilarejos mais remotos, especialmente àqueles que que mais sofreram com o terrorismo, para fazer saber quão injusta foi essa sentença.»
As mortes durante a Presidência de Fujimori aconteceram em meio à ofensiva de seu governo contra a guerrilha de esquerda do Sendero Luminoso. A execução dos crimes é atribuída ao grupo Colina, formado por militares que combatiam os maoístas sob o comando de Vladimiro Montesinos, chefe do serviço secreto.
Keiko declara já ter reunido 700 mil assinaturas de apoio a seu pai -o Peru tem cerca de 30 milhões de habitantes.
Analistas dizem que, apesar do apoio que Fujimori encontra em parte da população, as chances eleitorais de Keiko foram afetadas pela sentença.


Com agências internacionais

(Fuente: Folha de S. Paulo, 09 de abril de 2009)

A condenação de Fujimori

Editoriais

editoriais@uol.com.br

A condenação de Fujimori

PARA O bem e para o mal, Alberto Fujimori é um marco na política do Peru -e, de certo modo, da própria América do Sul. Sua década de mando na Presidência dividiu águas na história recente do país. Não foi menos simbólica sua condenação, anteontem, a 25 anos de cárcere, sentença da qual já recorreu.
O ex-reitor universitário que, de surpresa, venceu a eleição de 1990 foi um dos primeiros líderes regionais, na safra de redemocratizações do final do século 20, cuja ascensão revelou uma profunda descrença popular em partidos, lideranças e instituições tradicionais. O «outsider» Fujimori surgiu da ruína econômica e da explosão de violência legadas pelo primeiro governo de Alan García, da velha Apra (conglomerado de forças da esquerda nacionalista peruana).
O inexperiente político de ascendência japonesa desde cedo pôs-se a capitalizar esse difuso descontentamento social. Enquanto na economia assumia o reformismo ultramercadista, debelando a hiperinflação, deslanchava guerra total contra a guerrilha maoísta Sendero Luminoso, um dos grupos terroristas mais sanguinários que já atuaram na América do Sul.
Em paralelo ao estrangulamento dos rebeldes -processo no qual soçobrou também a guerrilha marxista Tupac Amaru-, estava em marcha um projeto autoritário. Em 1992, Fujimori liderou, com apoio militar, um golpe que dissolveu o Congresso e a Justiça. Passou, então, a reformar as instituições, atrelando-as ao jugo da Presidência.
Como ocorre com tantas figuras providenciais, a aventura de Fujimori terminou em desgraça. Fugiu do Peru em 2000, humilhado, em meio a estrepitoso escândalo de corrupção. Preso na volta, agora é condenado pelas violações a direitos humanos cometidas no combate à guerrilha.
Revigorada sai a sociedade peruana. O país rejeitou a herança autoritária de Fujimori e julga seu ex-presidente dentro das regras do Estado de Direito.

(Fuente: Folha de S. Paulo, 09 de abril de 2009)

Ato pune violação da ordem democrática, diz testemunha

Ato pune violação da ordem democrática, diz testemunha

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Membro da equipe de jornalistas que descobriu e investigou o massacre de La Cantuta, Ricardo Uceda avalia que a sentença contra Fujimori avança ao demonstrar a culpa do líder de um regime ditatorial. Mas diz que sua vitória sobre o Sendero Luminoso e as reformas econômicas continuarão lhe dando força política. Uceda, 55, é autor do livro «Morte no Pentagonito: Os Cemitérios Secretos do Exército Peruano», e participou do processo contra Fujimori na condição de testemunha. Leia, a seguir, a entrevista à Folha, por telefone:

 FOLHA – Qual é a importância da condenação?
RICARDO UCEDA
– Tem importância jurídica, política e histórica. Significa uma mudança na forma de administração de Justiça na América Latina para mandatários que violaram a ordem constitucional. A decisão demonstra como, num sistema ditatorial, quem está no topo é responsável por tudo. O importante é a culpabilidade de alguém que subverteu a ordem democrática para poder governar, abrindo espaço para que esses crimes fossem possíveis.

FOLHA – O sr. foi testemunha do processo. Qual é o grau de envolvimento do ex-presidente nos casos de La Cantuta e Barrios Altos?
UCEDA
– Eu me limitei a relatar o que ocorreu nos mandos executores dos crimes. Eu não tinha provas do nível de conhecimento de Fujimori. O tema de quanto Fujimori sabia da organização desses crimes era muito importante e tomou boa parte do processo. Mas há abundante informação sobre o que Fujimori encobriu e deixou de fazer depois dos crimes.

FOLHA – O seu livro descreve crimes militares no primeiro mandato de Alan García (1985-1990), atual presidente. Ele poderia ser julgado?
UCEDA
– É um risco remoto. A acusação contra García está bloqueada pelo tema da prescrição. Mas a discussão sobre a pertinência desse julgamento ainda está viva. Não estou dizendo que esses políticos [anteriores a Fujimori] deveriam ser declarados culpados, mas que deveria haver um processo para determinar sua participação. A verdade que está ficando é que só houve atos isolados das forças militares ou policiais, quando há muitos casos de povoados inteiros eliminados por serem considerados comprometidos com a subversão.

FOLHA – Fujimori, além da condenação, também será lembrado pela vitória sobre o Sendero Luminoso. Qual é o seu legado ao país?
UCEDA
– A sua comunicação política com o povo, o fato de ter se dedicado a fazer obras em povoados isolados e o ordenamento da economia são feitos positivos. Parte desse legado foi a decisão de tomar as rédeas da luta contra a subversão. Mas tudo isso foi ofuscado pelo golpe de Estado que rompeu a ordem democrática e alimentou uma corrupção inaceitável.

FOLHA – A Comissão da Verdade relata a morte de quase 70 mil pessoas. Qual é o próximo passo?
UCEDA
– Lamentavelmente, há uma divisão ideológica em relação ao que ocorreu na luta contra o terrorismo. O relatório da comissão -exaustivo e honesto- é contestado por setores responsáveis pelas violações. Mas também é certo que o fato de que houve um setor político [de esquerda] preponderante na comissão abre espaço para que haja uma discussão cheia de ódio sobre o trabalho.

(Fuente: Folha de S. Paulo, 08 de abril de 2009)

Fujimori é condenado por massacres

Fujimori é condenado por massacres

Sentenciado a 25 anos, ex-presidente peruano é 1º líder eleito julgado por violações humanitárias na região; defesa alega viés político

Episódios de La Cantuta e de Barrios Altos ocorreram durante ofensiva contra terrorismo do Sendero Luminoso, nos anos 90

DA REDAÇÃO

O ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000) foi condenado a 25 anos de prisão, em quatro processos por assassinato e sequestro durante a ofensiva contra o grupo maoísta Sendero Luminoso em seu governo. Após 16 meses de julgamento, um painel de três juízes peruanos considerou Fujimori autor intelectual dos massacres de Barrios Altos e La Cantuta e dos sequestros de um jornalista e de um empresário.
Em Barrios Altos, no centro de Lima, 15 pessoas -entre elas um menino de oito anos- foram mortas a tiros em uma festa. No campus da Universidade Nacional de Educação, conhecido como La Cantuta, também na capital, foram sequestrados e mortos um professor e nove estudantes suspeitos de ligação com a guerrilha.
Os crimes são atribuídos ao grupo Colina, formado por militares que combatiam os maoístas sob comando de Vladimiro Montesinos, chefe do serviço secreto de Fujimori e pivô da crise que derrubou seu governo, em 2000. A defesa alega viés político e quer a anulação do julgamento.
Fujimori, 70, é o primeiro presidente eleito condenado por violações humanitárias na América Latina. Alvo de investigação da Comissão Verdade, o conflito entre o Estado peruano e guerrilhas -além do Sendero, atuava no país o Movimento Revolucionário Tupac Amaru, de orientação castrista- deixou 70 mil mortos entre 1980 e 2000.
A Comissão Verdade atribuiu 54% das mortes ao Sendero Luminoso, adepto de táticas terroristas, e 40% às forças de segurança -militares, policiais e grupos paramilitares formados por camponeses pró-governo.
Fujimori nega envolvimento nas ações do grupo Colina, mas defende a linha dura de seu governo. «Minha estratégia de pacificação foi correta, e não me arrependo», disse durante o processo. Ele terá de pagar US$ 90 mil em indenizações.
O ex-presidente criticou a «hipocrisia» da corte: «Por que Belaúnde [1980-85] e García [atual presidente, que governou entre 1985-90] são inocentes e Fujimori é culpado [de violações sob seus mandatos]?»
O julgamento de Fujimori, cuja popularidade disparou com as sucessivas vitórias sobre o MRTA e do Sendero Luminoso, foi marcado por conflitos verbais entre simpatizantes do ex-presidente e ativistas de direitos humanos. Dois mil policiais vigiavam os arredores do tribunal para evitar confrontos.
O caso polariza o país, onde um terço dos eleitores apoia Fujimori. A deputada Keiko Fujimori, filha do ex-presidente, aparece entre os favoritos para a eleição presidencial de 2011, ao lado do esquerdista Ollanta Humala. Se eleita, promete anistiar o pai, que já fora condenado em 2007 a seis anos de prisão por abuso de poder.

Guerra suja
«Operações de terror» foram cometidas pelo Estado sob o governo Fujimori, afirmam documentos americanos, tornados públicos e usados no processo. A política extraoficial «incluía ações especiais de unidades treinadas em assassinatos», segundo esses papéis.
Perita nas exumações do caso La Cantuta, Carmen Rosa Cardoza conta que os indícios confirmam o massacre. «Disparo por armas de fogo causaram as mortes, nos casos em que foi possível identificar a causa», disse Cardoza à Folha, explicando que foram encontrados apenas restos de oito das vítimas, algumas calcinadas.
A vitória sobre as guerrilhas é vista como o principal legado do governo de Fujimori, marcado pelo crescente autoritarismo. Eleito em 1990, ele fechou o Congresso em 1992, em «autogolpe» apoiado pelos militares. Reeleito em 1995, obteve um terceiro mandato em 2000, mas foi forçado a deixar a Presidência no mesmo ano, quando fugiu do país em meio a escândalos de corrupção envolvendo Montesinos.

Com agências internacionais

(Fuente: Folha de S. Paulo, 08 de abril de 2009)